Estamos todos em um ponto de cansaço pela pandemia. Agora, o isolamento já parece algo impossível. Por consequência, a saudade e o desejo de nos encontrarmos com aqueles que temos tanto carinho começa a falar mais alto. Não vemos a hora de voltar à vida normal, e também de permitir que nossos filhos voltem, com segurança. Por isso resolvemos escrever este texto, porque acreditamos que o conhecimento é a melhor fonte de renovação das nossas energias para mantermos os cuidados que ainda são tão imprescindíveis. Hoje, vamos falar sobre a variante delta da Covid-19 e as crianças.
Aprendemos tanto desde o início desta pandemia. Assim, ela despertou um pouco do médico que existe em cada um de nós. Descobrimos como uma vacina é desenvolvida, como é estabelecida sua segurança e eficácia, o mecanismo que faz com que elas nos deixem protegidos ou quem as produz. Nunca soubemos tanto sobre um vírus, como ele se espalha entre nós e como evitar que isso aconteça. E, agora, com a vacinação em andamento, evitando aglomerações, com a máscara no rosto e álcool gel à mão, nossa preocupação passa a ser o surgimento das variantes e o risco de que a vacina no nosso braço deixe de ser eficaz.
Uma preocupação extremamente válida, aliás. Afinal, observando o panorama mundial de distribuição das variantes, estamos alguns meses atrás da maioria dos países. Entretanto, ao avaliar as tendências do que acontece no mundo, conseguimos fazer uma projeção do que pode vir por aí.
Qual a situação da variante delta no mundo?
Hoje, a variante delta representa a maioria dos casos em países como Israel, Estados Unidos e Reino Unido . No Brasil, a variante que predomina hoje é a gama – P1, apesar de já ter alguns casos da delta também. É por causa dessas mutações já existentes e também daquelas que podem surgir num futuro próximo que conter a pandemia é essencial. Dito isso, não podemos deixar de:
- Vacinar o mais rápido possível todos aqueles que podem ser vacinados, com o esquema completo de doses;
- Isolar os casos suspeitos até descartar ou confirmar a infecção através dos testes;
- Manter a higiene frequente das mãos;
- Manter em casa crianças com sintomas gripais até que sejam liberadas pelo pediatra;
- Confirmar com as escolas os protocolos de segurança e obedecer a eles;
- Manter todas as vacinas em dia;
- Manter o uso de máscaras e o distanciamento social.
O gráfico mostra que até o começo de agosto de 2021, a variante Delta correspondia à 97% da cepa circulante no Reino Unido. Além disso, 76,2% no restante da Europa, 80,3% na América do Norte, 26% na América do Sul, 68,6% na Ásia, 90,6% na Oceania e 79,1% na África.
Como surgem as variantes?
O Coronavírus é um vírus de mutação rápida, como o Influenza, vírus da gripe. Isso significa que quanto mais pessoas infectadas, maior a chance de sofrer modificação aleatória. Quanto mais modificações, maior a chance de que uma delas altere o comportamento tornando-o mais forte para sobreviver e se multiplicar, como ocorre com a variante Delta.
fonte: BBC/CDC
O aumento dos casos da variante Delta significa que as vacinas são menos eficazes contra ela?
Estudos mostraram que, após esquema vacinal completo, todas as vacinas ainda são eficazes. Apesar de, é claro, mais estudos ainda estarem em andamento pela suspeita de que essa proteção diminui com o tempo. Basicamente, o grande problema da variante delta é a maior transmissibilidade.
Por que não acreditam no efeito rebanho?
O efeito rebanho é quando grande parte da população adquiriu imunidade. Assim, a disseminação daquele agente infeccioso é reduzida a ponto de conseguir proteger mesmo aqueles que ainda não estão imunizados.
O novo Coronavírus, por sofrer mutações rapidamente, tem maior chance de desenvolver novas variantes. Quanto mais infectados, maior a chance de novas mutações e assim por diante, em um ciclo sem fim.
A única forma de conseguirmos reduzir a circulação do vírus é proteger quem não está imune e vacinar quem pode receber as doses.
Por que, então, estamos vendo um aumento de casos pela variante Delta?
Nenhuma vacina disponível hoje (contra COVID ou outras doenças) protege 100% dos vacinados. Esse fato, somado às mutações que se espalham rapidamente, faz com que as pessoas que desenvolveram menor imunidade com as vacinas, adoeçam. Além disso, o nível de transmissão da variante é maior.
Há fortes indícios de que a variante delta praticamente dobre o risco de hospitalização e morte em não vacinados, quando comparado com a variante alfa. Esse risco, observado junto ao número de indivíduos vacinados, praticamente não se altera. Portanto, as vacinas são eficazes para prevenir os desfechos moderados a graves (1). Ainda não há, entretanto, estudo comparando com a gamma, predominante no Brasil.
Por que a variante Delta está aumentando o número de casos em crianças?
A maior transmissibilidade da variante aumenta o número de pessoas contaminadas circulando por aí. Agora, grande parte da população em São Paulo com 18 anos de idade ou mais já está vacinada – ao contrário do Brasil como um todo, que conta apenas com 34% dos adultos vacinados.
Isso significa que cerca de 80% desses vacinados, independentemente da vacina que receberam, têm maiores chances de não manifestar sintomas. Além disso, têm mais chances de continuar a circular e espalhar o vírus.
A situação é a seguinte: quanto maior a circulação de contaminados, maior o risco para os não imunizados. Nas últimas semanas, inclusive, houve um aumento do número de casos em crianças. Entretanto, não foi um aumento da mortalidade, ainda muito pequena nesse grupo etário.
Casos no Estado de São Paulo em 01/07/2021
Óbitos no Estado de São Paulo em 01/07/2021
Por que a variante delta também está aumentando nos idosos?
Existe um fenômeno natural que acontecerá com todos nós: o envelhecimento de nosso sistema imune, ou imunosenescência. Este, por sua vez, reduz a capacidade de gerar memória contra novos agentes infecciosos ou faz com que essa memória dure menos. Por esse motivo, iniciamos aqui no Brasil a 3ª dose das vacinas para idosos.
A vacina é segura para crianças e adolescentes?
A única vacina liberada a partir de 12 anos de idade é a Pfizer-BioNTech, apesar de estudos em andamento para os menores. Ter uma vacina liberada pelos órgãos competentes significa que são eficazes e seguras.
Os riscos, por sua vez, são raros e não acontecem apenas com as vacinas. Sabe aquela caixinha de remédios que temos em casa e compramos mesmo sem prescrição médica? Então, ali também existem riscos de efeitos colaterais. Estes, inclusive, podem ser bem graves.
E as reações adversas com a vacina de RNA mensageiro?
O principal ponto de discussão é o risco de miocardite e pericardite pós-vacina do RNA mensageiro. Ele, aliás, é encontrado na Pfizer e Moderna.
A miocardite e a pericardite acontecem pela inflamação do coração. Os sintomas são:
- Dor no peito;
- Falta de ar fora de proporção;
- Palpitações de início recente ou desmaios.
As causas de miocardite e pericardite, entretanto, são variadas:
- Infecções;
- Medicamentos;
- Doenças crônicas.
No final de agosto, foi publicado um trabalho que acompanhou 884.828 pessoas. Estas foram divididas em dois grupos: vacinados com a Pfizer e não vacinados, com idades a partir de 16 anos. O grupo de 16 a 39 anos respondiam a 57% do total.
O estudo comprovou que há risco de miocardite relacionada à vacina. Contudo, foi um evento raro e de leve intensidade. Nele, todos os acometidos tiveram recuperação completa em poucos dias.
No grupo não vacinado, porém, a incidência foi de 11 em cada 100.000 doentes. Por fim, no grupo dos vacinados foi de 2,7 a cada 100.000.
Considerando tudo isso, crianças e adolescentes com doenças cardíacas ou risco aumentado para miocardites e pericardites podem pedir orientação médica para que cada caso seja individualizado.
Afinal, controlar a doença é também evitar as formas graves!
A Síndrome Inflamatória Multissistêmica é um evento raro que pode acontecer 14 dias após a infecção pelo Coronavírus, mesmo assintomática. Crianças com os seguintes sintomas precisam de avaliação médica imediata:
- Febre;
- Dor abdominal (intestino);
- Olhos vermelhos;
- Aperto ou dor no peito;
- Diarreia;
- Sensação anormal de cansaço;
- Dor de cabeça;
- Desmaio e fraqueza;
- Dor no pescoço;
- Irritação na pele;
- Vômito.
Todos, incluindo crianças e adolescentes que tiveram Covid-19, precisam de uma consulta de acompanhamento médico. As consultas podem ser presenciais ou via teleatendimento, conforme a gravidade do caso.
- Teleatendimento de casos com doença leve ou assintomática: menos de quatro dias de febre e sintomas como dor no corpo por menos de uma semana;
- Consultas presenciais em casos moderados ou graves: acima de quatro dias de febre e sintomas que persistem por mais de uma semana.
Para finalizar, as escolas são ambientes seguros e necessários para crianças desenvolverem as habilidades no processo de formação. Entretanto, protocolos de biossegurança e vacinação em dia são fundamentais. Com isso, doenças podem ser evitadas com vacinas que já existem. Algumas delas, inclusive, matam mais que a Covid-19 e a variante delta hoje.
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